Foto: Antonio Cruz/ Agência Brasil
O presidente Jair Bolsonaro reagiu com agressividade nesta
sexta-feira (20) ao ser questionado pela imprensa sobre as suspeitas em torno
do gabinete de seu filho Flávio Bolsonaro quando esse era deputado estadual na
Assembleia Legislativa do Rio.
O pivô da investigação é Fabrício Queiroz, policial militar
aposentado que era assessor de Flávio. A origem da relação de Queiroz com a
família Bolsonaro é o presidente da República. Os dois se conhecem desde 1984 e
pescavam juntos em Angra dos Reis.
Queiroz depositou R$ 24 mil na conta da primeira-dama
Michelle Bolsonaro em 2016. O presidente afirma se tratar de parte da quitação
de um empréstimo de R$ 40 mil.
Na manhã desta sexta-feira, ao ser questionado se teria
comprovante do empréstimo que diz ter feito a Queiroz, o presidente respondeu a
um repórter do jornal O Globo: "Oh rapaz, pergunta para a tua mãe o
comprovante que ela deu para o teu pai, tá certo?"
Em seguida, Bolsonaro se dirigiu a outro profissional.
"Você tem a nota fiscal desse relógio no teu braço? Não
tem. Você tem nota fiscal do teu sapato? Você tem do teu carro, o documento.
Tudo para o outro lado tem que ter nota fiscal e comprovante.
Eu conheço o
Queiroz desde 1985, nunca tive problema. Pescava comigo, andava comigo no Rio
de Janeiro. Tinha que ter segurança comigo, andava com meu filho. Se ele fez
besteira, responda pelos atos dele", concluiu o presidente.
A entrevista de Bolsonaro em frente ao Palácio da Alvorada
foi marcada por hostilidades e provocações aos jornalistas presentes, tanto por
parte do mandatário quanto por parte de um grupo de apoiadores que o saudava no
local.
O mesmo repórter perguntou em seguida sobre os
desdobramentos da investigação do Ministério Público do Rio sobre Flávio.
Bolsonaro respondeu mais uma vez de forma agressiva: "Você tem uma cara de
homossexual terrível, nem por isso eu te acuso de ser homossexual. Se bem que
não é crime ser homossexual", retrucou o presidente.
Neste ano, o STF (Supremo Tribunal Federal) concluiu
julgamento que enquadrou a homofobia e a transfobia na lei dos crimes de
racismo até que o Congresso Nacional aprove uma legislação sobre o tema.
Hoje Bolsonaro nega que seja homofóbico e contra os gays. Em
2011, ainda como deputado, disse o seguinte: "Seria incapaz de amar um
filho homossexual. Não vou dar uma de hipócrita aqui. Prefiro que um filho meu
morra num acidente do que apareça com um bigodudo por aí."
O Ministério Público do Rio afirma que Flávio lavou até R$
2,3 milhões com transações imobiliárias e com sua loja de chocolates em um
shopping da Barra da Tijuca, zona oeste da cidade. As operações tiveram como
semelhança o uso de grande quantidade de dinheiro vivo.
Para a Promotoria, a origem desses recursos em espécie é o
esquema de "rachadinha" no antigo gabinete do senador na Assembleia,
operado por Queiroz.
Sobre uma das suspeitas, Bolsonaro repetiu o filho, disse
que "ninguém lava dinheiro em franquia" e atacou o MP estadual, o
juiz do caso e o governador do Rio, Wilson Witzel. "As franquias são
controladas, não é o cara abre a franquia e a matriz abandona. Ninguém lava
dinheiro em franquia", declarou o presidente.
A Kopenhagen afirmou, em nota, que não realiza "nenhum
tipo de auditoria fiscal com seus franqueados, que são pessoas jurídicas
totalmente independentes da franqueadora".
"A marca afirma que possui um amplo manual de normas e
procedimentos operacionais, já que preza a padronização de toda a rede de
franquias e a garantia de qualidade. Esses aspectos operacionais são auditados
pelo grupo a fim de preservar os atributos do ponto de venda, mantendo a
excelência dos processos", diz a nota da empresa.
Ainda nesta sexta-feira, ao se referir aos altos valores
apontados pelo MP-RJ, Bolsonaro comparou seu filho ao jogador de futebol
Neymar.
"Acusaram ele também de estar ganhando mais na casa de
chocolate. Quem leva mais cliente -e ele leva um montão de gente importante pra
lá- ganha mais. É a mesma coisa de chegar para o Neymar [e perguntar]: 'Por que
ele está ganhando mais do que os outros jogadores?' Porque ele é mais
importante. Não é comunismo."
A exemplo de Flávio, o presidente atacou o juiz do caso,
Flávio Itabaiana, pelo fato de o magistrado ter uma filha trabalhando na
Secretaria Estadual da Casa Civil.
"Você já viu o Ministério do Público do Rio de Janeiro
investigar qualquer pessoa ou ato de corrupção, qualquer deslize de agente
público do estado? É o estado mais corrupto do Brasil. Vocês perguntaram para o
governador Witzel por que a filha do juiz Itabaiana está empregada com ele? E
pelo o que parece, não vou atestar aqui, é funcionária fantasma. Já foram em
cima do Ministério Pública para ver se vai investigar o Witzel?"
Em outro momento da entrevista a jornalistas, Bolsonaro foi
perguntado por um repórter se o governo pretendia transferir a embaixada do
Brasil em Israel de Tel Aviv para Jerusalém.
"Você pretende se casar comigo um dia? Não seja
preconceituoso. Você não gosta de loiro de olhos azuis? Isso é homofobia, vão
te processar por homofobia", provocou Bolsonaro, para depois dizer que
houve recentemente a inauguração de um escritório da Apex (Agência Brasileira
de Promoção de Exportações e Investimentos) em Jerusalém.
Fonte: Folha PE
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