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O cérebro rejeita uma informação que contradiz aquilo que já
sabemos, o que, na maioria dos casos, significa que funciona bem, porque à
partida essa informação está correta. No entanto, quando um argumento é bom, o
cérebro tem-no em consideração? Um grupo de cientistas estudou uma área do
cérebro que pode influenciar a forma como assimilamos opiniões contrárias.
A neurocientista Tali Sharot fez uma investigação para
tentar responder as perguntas como “porque é que desenvolvemos um cérebro que
descarta informações válidas quando estas informações não se encaixam na visão
do mundo? Será uma falha na evolução humana?”.
Para tentar responder a estas questões, Sharot realizou um
conjunto de experiências para tentar mostrar que o cérebro se recusa a aceitar
a opinião de alguém que o contradiga, por mais convincente e válida que esta
possa ser.
No estudo, a pesquisadora colocou os participantes para
jogar a um gênero de Preço Certo, com o valor de vários imóveis, em que estes
recebiam um preço e precisavam de decidir se é mais alto ou mais baixo e
determinar se apostariam um valor mais alto ou mais baixo, entre um a 60 centavos.
O objetivo seria avaliar o grau de confiança das decisões de
cada um. Em seguida, foram mostradas as decisões dos companheiros do jogo e era
dada a opção de mudar a quantia apostada.
Para os cientistas, os resultados não foram surpresa. Quando
um sujeito dava razão, o outro aumentava a aposta. E, se existisse alguém muito
seguro da aposta que fez, então havia muito mais apostas a serem alteradas.
O mesmo não acontecia quando alguém apostava o contrário.
“Descobrimos que quando as pessoas discordam, os cérebros não conseguem
registar a força da opinião da outra pessoa, o que lhes dá menos motivos para
mudarem de opinião”, contou Andreas Kappes, investigador da Universidade de
Londres e coautor do estudo.
“As nossas descobertas sugerem que mesmo que os argumentos
sejam muito elaborados do outro lado, não vão convencer as pessoas mais
motivadas, porque a discordância é suficiente para rejeitá-la. O não
cumprimento da qualidade do argumento torna menos provável a mudança de
pensamento”, acrescenta Kappes. Citada por El País, Tali Sharot afirma que os
cientistas deram um grande passo na compreensão do funcionamento do cérebro.
A equipa de cientistas, liderada por Sharot, observou a
atividade cerebral dos participantes recorrendo a ressonâncias magnéticas. A
área estudada foi concentrada na região do córtex pré-frontal, que é ativada
quando se fala em confiança ou qualidade dos argumentos apresentados, o que nos
pode levar a mudar de opinião ou de crenças.
Kappes explica que, se um indivíduo ouvir um médico muito
confiante a sugerir um tratamento, o cortéx pré-frontal rastreia a confiança do
médico e leva o indivíduo a ajustar a sua opinião de acordo com a crença que
tem em relação à forma como se deve tratar.
O cientista afirma que o estudo ainda não está completo, uma
vez que ainda não foi possível perceber por que motivo “as pessoas discordam e
o cérebro não, dando às pessoas poucas razões para mudarem de ideias”.
“A tendência comportamental de descartar informações
discrepantes tem implicações significativas para os indivíduos e para a
sociedade, porque pode gerar a polarização e facilitar a manutenção de falsas
crenças”, conclui Kappes.
Susana Martínez-Conde, especialista em autoenganos da mente,
contou a El País que “este estudo é um bom primeiro passo para estudar os
mecanismos de viés de confirmação, porque eles encontram uma correlação com as
diferenças dessa região do cérebro, mas isso ainda não explica a discrepância
entre a nossa opinião e as evidências que nos contradizem.”
Em relação ao estudo realizado por Sharot, Susana
Martínez-Conde diz que: “Ouvimos o que queremos ouvir e não aquilo que
realmente ouvimos. Não damos o mesmo peso às opiniões que nos contradizem. O
problema do viés de confirmação é muito mais amplo e profundo que as posições
ideológicas”.
Os investigadores da Universidade de Londres estudaram um
caso em que a disposição para aceitar dados que nos contradizem, quando esses
mesmo dados suportam aquilo em que queremos acreditar.
Em agosto de 2016, os cidadãos norte-americanos foram
questionados sobre quem venceria as eleições desse ano, a maioria apostava em
Hillary Clinton. Quando era mostrada uma pesquisa que apoiava essa mesma ideia,
não existiam grandes alterações de opinião. No entanto, ao ser apresentada uma
pesquisa em que Donald Trump aparecia como vencedor das eleições, os
republicanos estavam dispostos a mudar de opinião. Embora acreditassem que
Clinton seria a eleita, o seu desejo era que Trump vencesse.
Neste caso, o cérebro recebeu bem os argumentos contrários
às suas convicções.
Fonte: Lifestyle ao Minuto
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