Léo Malafaia/Arquivo DP
A disputa pela prefeitura do Recife no ano que vem deve
colocar em lados opostos os dois principiais herdeiros políticos do
ex-governador Miguel Arraes, que morreu em 2005. Filho do ex-governador Eduardo
Campos e bisneto de Arraes, o deputado federal João Campos (PSB), de 26 anos,
foi escolhido pelo partido disputar a capital pernambucana. Sua principal
adversária no campo da esquerda é a vereadora Marília Arraes, 35 anos, que é
neta de Arraes e prima de segundo grau de João.
Depois da morte do pai em um acidente de avião na campanha
presidencial de 2014, o deputado pessebista passou a ser visto como o herdeiro
político do pai. Já Marília traçou outro caminho. O racha familiar aconteceu
naquela disputa eleitoral, quando o PSB escolheu João Campos, então com 18
anos, para comandar a Secretaria Nacional de Juventude da sigla. Na ocasião
Marilia era do mesmo partido do primo e seu grupo também reivindicava o cargo.
Além da disputa interna, Marília discordou do que
classificou de "guinada à direita" do PSB por ter apoiado o tucano
Aécio Neves no segundo turno da eleição presidencial. "Eles queriam tirar
o socialismo do partido. Então rompi e fiquei com Dilma", disse a
vereadora, que então se filiou ao PT.
Tanto João Campos como Marília evitam tratar a disputa como
um racha familiar. "Política é uma coisa, família é outra", disse o
jovem deputado. Em 2018, João Campos recebeu 460.387 votos e foi o deputado
federal mais bem votado da história de Pernambuco. Marília Arraes, eleita pelo
PT, ficou em segundo lugar, com 193.108 votos.
Para "nacionalizar" o nome de João Campos, o PSB
articulou com outros partidos de oposição e do Centrão a inclusão dele na CPI
do Óleo. A pauta ambiental, aliás, foi a porta de entrada do filho de Eduardo
Campos na política. Ele é uma das maiores apostas do RAPS (Rede de Ação
Política pela Sustentabilidade), grupo suprapartidário criado pelo empresário
Guilherme Leal, que foi candidato a vice de Marina Silva em 2010.
"João trouxe outros membros do PSB é uma importante
fonte de inspiração para outros jovens. Ele desponta como uma importante
liderança jovem", disse Monica Sodré, coordenadora da RAPS.
Já Marília começou a carreira política no movimento
estudantil da Universidade Federal de Pernambuco. Em 2008, ela tinha 24 anos
quando se elegeu pelo PSB vereadora do Recife com 9.533 votos, sendo a
parlamentar mais nova na 15ª legislatura. "Não havia essa conduta
monarquista. Haviam divergências entre os grupos de Eduardo Campos, que teve
uma trajetória própria, e Arraes", disse. Quando governador, Miguel
Arraes, de fato, nunca estimulou seus familiares a entrar na política. Pelo
contrário.
Leilão
Em 2018, Marília era apontada como candidata natural do PSB
ao governo de Pernambuco, mas perdeu graças a um acordo nacional do partido com
o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva - o petista, que estava preso em
Curitiba e tinha visto sua candidatura à Presidência ser barrada pela Justiça,
optou por apoiar o pessebista Paulo Câmara, que foi eleito e chamou o PT para
seu governo.
Atualmente, a ala majoritária do PT pernambucano, comandada
pelo senador Humberto Costa, defende a manutenção da aliança com o PSB, que tem
cargos na administração estadual. Essa tese não agrada a Lula - o ex-presidente
quer que o PT lance candidatos em todas as capitais.
Questionado sobre a chance de uma aliança do campo da
esquerda em Pernambuco, João Campos lembra da proximidade do PSB com o PT
local. "As esquerdas devem fazer uma discussão nacional pensando em 2022",
afirmou.
Fonte: Diário de Pernambuco
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