A Vale vai remunerar seus
acionistas em R$ 7,25 bilhões, na forma de juros sobre capital próprio,
referentes ao ano de 2019. O valor supera o total gasto pela companhia nos
reparos do rompimento da barragem de Brumadinho (MG).
A empresa não disse quando o dinheiro será creditado aos
acionistas, já que continua valendo a decisão de suspender os pagamentos de
dividendos, anunciada em 27 de janeiro, dois dias após a tragédia.
A Vale estima que, ao fim de 2019, terá desembolsado com
reparação, indenizações e despesas pelo desastre US$ 1,6 bilhão (R$ 6,55
bilhões).
A provisão relacionada a Brumadinho até 2031 é de US$ 8
bilhões (R$ 32,75 bilhões), valor que inclui a reincorporação de nove barragens
da mineradora ao relevo e ao ambiente (descaracterização).
Os valores foram informados no Vale Day, encontro anual com
investidores em Nova York de 6 a 8 deste mês.
Até o momento, a empresa firmou mais de 4.000 acordos de
indenização com as vítimas do rompimento da barragem, nos quais foram pagos
cerca de R$ 2 bilhões. Somando obras e demais pagamentos a famílias, o total
gasto na reparação até o início de dezembro foi de R$ 4,5 bilhões.
Procurada, a Vale afirmou que não há um prazo legal para o
pagamento aos acionistas e disse que a empresa "está focada na reparação
das consequências do rompimento da barragem em Brumadinho".
Segundo comunicado ao mercado de quinta-feira (19), o
pagamento de juros a acionistas será "deliberado em momento oportuno, o
que não ocorrerá durante a suspensão da Política de Remuneração ao
Acionista".
Analistas do mercado esperam que o pagamento venha no
primeiro semestre de 2020 e que o atraso se deve só a uma questão moral da
companhia. A tragédia deixou 256 mortos. Ainda há 14 desaparecidos.
Apesar da suspensão do pagamento ao acionista, a declaração
de juros sobre capital próprio é uma questão fiscal porque, ao separar a
remuneração ao investidor, a companhia reduz a base de cálculo para tributação
do lucro.
A Vale aponta que o cálculo de juros se baseia em reservas
de lucro apontadas no balanço do terceiro trimestre deste ano, período em que a
companhia teve resultado líquido de R$ 6,5 bilhões. Nos dois primeiros
trimestres, a Vale registrou prejuízo em decorrência dos gastos com o
rompimento da barragem.
Os R$ 7,25 bilhões a serem distribuídos se aproximam dos R$
7,7 bilhões pagos em 2018, quando também houve partilha de dividendos, e
superam o montante de 2017, de 2016 e de 2015.
O juro sobre capital próprio de 2019 corresponde a R$ 1,41
por ação ordinária em circulação e por ação preferencial de classe especial de
emissão da Vale –golden share do governo federal.
Para ter acesso ao valor, os acionistas precisam deter o
papel até 26 de dezembro, se negociado na Bolsa brasileira. No caso da Bolsa de
Nova York, o prazo é 30 de dezembro. Com o anúncio, as ações da Vale fecharam
em alta de 1,46%, na sexta (20), a R$ 54,79, maior valor desde a tragédia de
Brumadinho. No pregão anterior ao rompimento da barragem, cada ação valia R$
56,15. Na sessão seguinte, elas caíram para R$ 42,38, tombo de 24,5%.
Fonte: Notícias ao Minuto
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