Foto: Reprodução/Instagram
A viúva da vereadora assassinada Marielle Franco, Mônica
Benício, disse nesta terça-feira, 21, em nota enviada ao jornal O Estado de S.
Paulo e ao Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado), que
ficou "feliz" com a nova posição do ministro da Justiça e Segurança
Pública, Sergio Moro, que passou a defender a continuidade das investigações do
caso com as autoridades do Rio de Janeiro.
Um parecer enviado pela Advocacia-Geral da União (AGU) ao
Superior Tribunal de Justiça (STJ), revelado pelo jornal O Estado de S. Paulo,
registra o novo posicionamento de Moro sobre o caso Marielle, pela manutenção
das investigações do assassinato da vereadora do Rio de Janeiro e do motorista
Anderson Gomes na esfera estadual.
O ministro defende prestigiar o entendimento dos familiares
de Marielle, que são contrários à transferência do caso.
"Fico feliz que o ministro tenha revisto sua posição, e
que agora está de acordo com aquilo que nós, familiares, pedimos. Caso
futuramente surjam evidências que apontem para a necessidade de federalizar, eu
também não me incomodarei em mudar de posição, entendendo que a resolução desse
caso é fundamental para a democracia brasileira", disse Mônica, em nota
enviada à reportagem.
"Defendemos, sobretudo, a segurança e a isenção na
investigação e esperamos uma resposta para esse crime que completará dois anos
sem que se saiba quem mandou matar Marielle. O sentimento de dor e injustiça
permanece. Até quando?", questionou Mônica.
Bastidores
A decisão sobre a federalização do caso caberá à Terceira
Seção do Superior Tribunal de Justiça, que deve se debruçar sobre o tema ainda
neste semestre. Ministros do STJ ouvidos reservadamente pelo jornal O Estado de
S. Paulo e pelo Broadcast avaliam que, hoje, a tendência do tribunal é não
retirar das autoridades do Rio as investigações. Eles, contudo, alegam que a
discussão é técnica e jurídica, minimizando o impacto do posicionamento da
família sobre a controvérsia.
Em parecer sigiloso encaminhado ao STJ, a Advocacia-Geral da
União destaca a posição do ministério de Moro. "Como bem ressaltado pelo
Ministério da Justiça (...), os próprios familiares da ex-vereadora
posicionaram-se desfavoravelmente à federalização das investigações e
persecução penal, fator que, acreditamos, deve ser considerado e prestigiado
pelo STJ", destaca a AGU.
"Ademais, não se pode perder de vista que eventual
deslocamento de competência à revelia da vontade de familiares das vítimas pode
sinalizar futuro questionamento da conduta da União, sob eventual alegação
(ainda que infundada) de que pode repercutir negativamente sobre as atividades
investigativas e punitivas do Estado do RJ, no caso", prossegue o parecer.
Em entrevista na noite da segunda-feira ao programa Roda
Viva, da TV Cultura, Moro afirmou que as críticas de familiares de Marielle a
uma possível federalização do caso o fizeram mudar de posição. "(Os
familiares) Levantaram, de uma forma não muito justa, que a ideia de
federalizar era para que o governo federal, de alguma forma, obstruísse as
investigações, o que era falso. Foi o próprio governo federal, com a
investigação na Polícia Federal, que possibilitou que a investigação tomasse o
rumo correto", disse Moro. "O governo não tem nenhuma intenção de
proteger os mandantes desse assassinato."
Questionado, durante o programa, se o presidente Jair
Bolsonaro concordou com a mudança de opinião, Moro disse ter
"comentado" com o presidente, mas não entrou em detalhes.
Assassinato
Marielle Franco foi assassinada a tiros no centro do Rio, em
um caso que aguarda solução há quase dois anos. Na véspera de deixar o cargo,
em setembro do ano passado, a então procuradora-geral da República, Raquel
Dodge, pediu a federalização das investigações, sob a alegação de que deixar o
inquérito com a Polícia Civil do Rio podia gerar "desvios e
simulações".
O processo ganhou novos contornos após Bolsonaro ter o nome
associado ao caso, conforme depoimento de um porteiro do condomínio Vivendas da
Barra, onde moravam o próprio Bolsonaro e o policial militar aposentado Ronnie
Lessa, acusado de participar do crime. O funcionário, no entanto, alegou depois
que se enganou.
À época, Moro disse que a menção a Bolsonaro era um
"disparate". "Vendo esse novo episódio, em que se busca
politizar a investigação indevidamente, a minha avaliação é que o melhor
caminho para que possamos ter uma investigação exitosa é a federalização",
afirmou anteriormente, em entrevista à rádio CBN.
Bolsonaro já afirmou que "seria bom" federalizar o
caso, mas observou que a medida daria um "indicativo de que querem me
blindar com a Polícia Federal". Agora, a posição de Moro é outra.
Fonte: Diário de Pernambuco
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