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sábado, 4 de janeiro de 2020

Wellington Andrade, diretor do presídio Dr. Rorenildo da Rocha Leão em Palmares diz: "Ressocialização é possível"

                  Foto: Tereza Lima

Wellington Andrade, Policial Penal há mais de 25 anos, Gestor Titular do presídio Dr. Rorenildo da Rocha Leão na cidade dos Palmares Mata Sul de Pernambuco desde 2009, mas está na gestão desde 1997 como adjunto com o Dr. Celso. Professor de Matemática, leciona em São José da Coroa Grande, com especialização em Matemática Comercial e Financeira pela UFRPE e atualmente mestrando em Ciências Religiosas na Universidade Católica de Pernambuco.

Wellington nos falou sobre como é gerir uma unidade prisional com capacidade para 70 detentos e que hoje abriga 800. Rebeliões acontecem em vários presídios do Brasil constantemente, e, desde que o Rorenildo da Rocha Leão foi construído, nunca ouvimos falar em rebelião. As revistas são constantes e o respeito é um diferencial para a ressocialização da unidade prisional.

Blog - Como é gerir esse Complexo Prisional?

Wellington - O que nós primamos aqui é pelo respeito, procuramos tratar os funcionários e também os reeducandos com respeito, porque quando a pessoa está presa ela pede somente a liberdade, a dignidade da pessoa tem que ser preservada e o tratamento é recíproco, eles tem que tratar os servidores com respeito, por isso que não se tem notícias de problemas aqui na unidade. A grande premissa nossa é questão da honestidade, não temos registros de corrupção de ordem nenhuma nesse presídio, se você não trabalha com corrupção, trabalha com respeito, automaticamente você impõe uma postura e tem que ser recíproca.

Blog - Sua equipe, como é formada?

Wellington - Eu costumo dizer que a equipe é tão boa que qualquer pessoa poderia estar à frente dela. Nós temos aqui na unidade Policiais Penais, Médicos, Enfermeiros, Técnicos de Enfermagem, Assistente Social, Psicóloga, Professores, são mais de 60 profissionais e os Policiais Militares, então, é uma equipe bem heterogênea, mas muito comprometida e vou confessar que é fácil está à frente dessa equipe, ela é muito boa.

Blog - Os detentos trabalham?

Wellington - Nós temos aqui uma concessão que são as vagas de emprego que o Estado disponibiliza nas unidades, aqui nós temos apenas 38 e essas vagas estão todas ocupadas. Os detentos recebem o equivalente a 75% do salário mínimo e as vagas são distribuídas na cozinha, padaria e na faxina do estabelecimento. Existe outra modalidade de trabalho que se chama "trabalho voluntário. O Estado legalizou essa situação onde o preso quer trabalhar como voluntário e tem direitos a redução da pena, é algo positivo, não tem dinheiro mas pode sair da cela e tem ocupação além de capacitação profissional que vai ajudá-lo na saída.

Blog - Você acha que a ressocialização é difícil ou impossível?

Wellington - Difícil, mas não impossível. Se me perguntar se todos que entram e saem são ressocializados, vou dizer que não, mas se perguntar se existe e se acredito na ressocialização vou dizer que sim, tanto que tem presos que entram aqui analfabetos e saem com o ensino fundamental e médio concluídos, isso chama-se "ressocializar'. Temos pessoas que também são grandes parceiros nossos que são da Religião, fazem essa tranformação, e repito: "Acredito na Ressocialização" como veículo de transformação, é uma certeza que tenho, por estar há mais de 25 anos no sistema penitenciário, eu tenho essa certeza.

Blog - Sobre a escola que existe na unidade, como funciona? Todos os detentos estudam?

Wellington - Nossa Escola é Estadual e tem capacidade para abrigar 200 alunos, mas nós conseguimos colocar 350, uma superlotação positiva, não temos condições de abrigar todos por não termos espaço, mas 40% dos reeducandos estudam. Temos a escola como um grande parceiro, costumamos dizer que a educação tem o poder de "formar" as pessoas, que são as crianças que estão na escola, como também "transformar", que são  as pessoas que estão aqui na unidade e se tivéssemos mais espaço, teríamos pessoas estudando.

Blog - Ficamos sabendo através dos noticiários e das redes sociais de detentos que fizeram o Enem. É fato ou não?

Wellington - Para quem está recluso, participam do Enem mas infelizmente não temos estrutura para que possam frequentar a universidade, não há estrutura para satisfazer essa demanda, mas existe um estudo bem encaminhado para que esses estudos venham na modalidade EAD para dentro dos presídios, então, isso é importante por que  o reeducando termina o ensino médio  e dá continuidade a seus estudos, não fica com a mente parada, vai se profissionalizar através da educação, então isso é possível. temos registro de pessoas que estavam presas, concluíram o Ensino Médio aqui, participaram do Enem, são notícias frequentes,  e foram bem sucedidas, passaram na Universidade através do Enem e vieram aqui nos comunicar, o que prá nós é muito gratificante, sinal que estamos no caminho certo, é sinal da ressocialização.

Wellinton - Temos exemplo de um preso que chegou aqui analfabeto, de certa forma perigoso, se tornou religioso, foi para a escola concluindo os níveis fundamental e médio e foi orador da turma onde ele mesmo construiu o discurso com a oratória, então, a partir desses exemplos não posso dizer que não existe ressocialização e você dizer que a mesma não existe, é querer passar uma borracha nas coisas que acontecem de fato. Antigamente a prisão tinha o objetivo punitivo, hoje não, a punição é consequência mas, o grande objetivo da pena é recuperar. Nós temos que pensar que no Brasil não tem pena de morte, não tem prisão perpétua e essas pessoas retornarão para a sociedade e se não procurar-mos recuperá-las, as vítimas seremos nós, nossos parentes, nossos amigos, temos que investir na ressocialização e eu acredito que o ponto fundamental é a Educação.

"A Escola da unidade prisional Dr. Rorenildo da Rocha Leão tem a certificação da UNESCO, 1ª escola da unidade masculina da América Latina a ter essa certificação. A escola fez um trabalho e a UNESCO que é integrante da ONU, abre as inscrições para que as escolas apresentem propostas, nossa escola fez, apresentou um projeto e a avaliação é muito rigorosa, por etapas e para nossa surpresa conseguimos a avaliação em dezembro de 2019, e hoje estamos nos Anais da ONU como a 1ª Escola da América Latina dentro de um presídio com esse reconhecimento, são essas coisas que nos deixam satisfeitos e nos fazem acreditar na ressocialização".

Wellington Andrade, diretor do presídio Dr. Rorenildo da Rocha Leão

Por: Tereza Lima

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