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É o que mostra estudo publicado no periódico Nutrition,
Metabolism & Cardiovascular Diseases. O trabalho foi coordenado por Maria
do Carmo Pinho Franco, em uma linha de pesquisa apoiada pela Fundação de Amparo
à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
O trabalho foi feito com 35 crianças entre 6 e 11 anos de
idade, divididas em dois grupos: nascidas com peso menor do que 2,5kg e maior
ou igual a 3kg. Elas foram submetidas a um programa de treinamento de 10
semanas, que incluía sessões de 45 minutos de atividades físicas lúdicas com
intensidade de moderada a vigorosa. Os parâmetros antropométricos do grupo
(peso, estatura, percentual de gordura e circunferências corporais) e amostras
de sangue foram coletados antes e depois do período de treinos.
Ao fim da intervenção, notou-se melhora significativa na
circunferência da cintura e na aptidão cardiorrespiratória de todas as
crianças. Naquelas que nasceram com baixo peso foi possível perceber ainda
melhora na pressão arterial, assim como nos níveis circulantes e na
funcionalidade das células progenitoras endoteliais.
"As células progenitoras endoteliais são produzidas
pela medula óssea e estão envolvidas em diversos processos vasculares,
incluindo a formação de novos vasos sanguíneos e o reparo dos já
existentes", explicou a pesquisadora.
No final da década de 1980, surgiram as primeiras suspeitas
de que crianças nascidas a termo, mas com peso inferior a 2,5kg, tinham maior
propensão a doenças cardiovasculares. Esses achados deram origem à Hipótese de
Programação Fetal, postulada pelo epidemiologista britânico David Barker
(1938-2013). O pesquisador observou, no Reino Unido, que nos grupos
populacionais mais carentes, as taxas de doença cardiovascular eram duas vezes
mais altas que nas regiões mais ricas.
Sabe-se hoje que a programação fetal pode ocorrer em
resposta a diferentes condições adversas durante a gestação, como deficiências
nutricionais, insuficiência placentária e estresse. Esse fenômeno pode ser
interpretado como uma tentativa do feto de se adaptar ao ambiente de nutrição
restrita, garantindo sua sobrevivência às custas de modificações permanentes em
suas estruturas e órgãos vitais, que persistem durante por toda a vida.
Franco tem se dedicado, desde seu mestrado, ao estudo das
repercussões tardias do baixo peso ao nascer. A linha de investigação começou
com modelos animais e, nos últimos anos, migrou para estudos em população de
crianças com foco nas alterações tardias no endotélio vascular - a camada que
reveste a parede dos vasos sanguíneos.
"Nas crianças pré-adolescentes, já é possível notar
alterações na diminuição da vasodilatação de determinadas artérias e alterações
na pressão arterial, principalmente um aumento na sistólica [ou pressão máxima,
que marca a contração do músculo cardíaco quando ele bombeia sangue]",
disse Franco. "São detalhes, mas que elevam o risco cardiovascular no
futuro, caso não seja feita alguma intervenção."
No trabalho mais recente, o grupo avaliou como a prática de
atividade física afeta o funcionamento das células progenitoras endoteliais em
crianças com idade entre 6 a 11 anos que frequentam um centro da juventude no
município de São Paulo.
"Estudos anteriores demonstraram que a capacidade de
deslocamento das células progenitoras endoteliais da medula óssea para a
corrente sanguínea, bem como sua capacidade de transformação em células
endoteliais maduras, podem ser alteradas frente a diferentes estímulos. Dentro
desse contexto, o exercício físico desempenha papel importante e benéfico sobre
a mobilização dessas células", disse Franco.
Os pesquisadores observaram que o efeito positivo do
treinamento físico foi mais significativo no grupo de crianças com histórico de
baixo peso ao nascer. Além de aumentar os níveis de células progenitoras no
sangue, houve aumento nos níveis de óxido nítrico [NO] e do fator de
crescimento endotelial vascular [VEGF-A] - duas moléculas envolvidas nos
processos de mobilização e recrutamento das células progenitoras
endoteliais", contou a pesquisadora.
Dados da literatura científica sugerem que o fenômeno da
programação fetal está associado ao que se convencionou chamar de fatores
epigenéticos, ou seja, a modificações bioquímicas que ocorrem nas células
(geralmente em resposta às condições ambientais) e alteram a forma como os genes
são expressos - sem que para isso seja necessária uma alteração na sequência
genética.
A equipe de Franco suspeita que a prática regular de
atividade física atue justamente sobre esses mecanismos epigenéticos,
revertendo o padrão prejudicial de expressão gênica induzido pela condição
gestacional adversa.
Na avaliação da pesquisadora, os resultados do estudo
mostram que uma intervenção simples e de baixo custo pode ter impacto decisivo
na vida adulta de crianças que nascem com baixo peso.
"Os pais precisam ser orientados para que coloquem os
seus filhos para se exercitarem o quanto antes. E o pediatra, por outro lado,
deve acompanhar essas crianças com olhos diferentes, realizando exames
regulares de perfil lipídico, aferição de pressão arterial e outros marcadores
cardiovasculares", disse a pesquisadora, que completou: “Sabemos que o
perfil das crianças mudou bastante, elas são mais sedentárias em virtude das
telas e por que não têm mais aquelas brincadeiras de rua. Na pesquisa, foram
incluídas brincadeiras lúdicas e com bola, então são atividades físicas
moderadas que envolvem as crianças”.
Fonte Notícias ao Minuto
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