"Aqui entramos juntos e estamos juntos. Quando eu
deixar o ministério, vamos colaborar com a equipe que vier, mas vamos sair
juntos", disse o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, rodeado por
cinco dos sete secretários da pasta e acompanhado por servidores que atuam no
combate ao novo coronavírus.
O encontro em peso na mesa de auditório, comum apenas em
grandes eventos e momentos de posse de ministros, ocorreu na noite da
segunda-feira (6). O motivo não era a posse do titular, mas o risco de sua
saída –e, com ele, do restante da equipe.
O movimento de "se sair, saímos juntos" tem sido
reforçado nos bastidores por parte dos secretários do Ministério da Saúde em
meio à queda de braço entre Mandetta e o presidente Jair Bolsonaro.
A frase é repetida sobretudo pelo secretário-executivo da
pasta, João Gabbardo dos Reis, e pelo secretário de Vigilância, Wanderson
Oliveira, ambos na linha de frente do combate ao novo coronavírus.
"Fui convidado por ele e sairia com ele", disse
Gabbardo à reportagem nesta terça-feira (7). Em meio à crise, o ministro também
tem tentado dar visibilidade à equipe, marcada pela experiência em gestão de
saúde e atuação em outros governos.
Médico e ultramaratonista, Gabbardo, número 2 da pasta, é descrito
por Mandetta como "o cara que prevê e resolve as coisas". No caso do
coronavírus, isso significa lidar com a gestão de leitos e a oferta de
equipamentos no SUS. Antes de assumir o cargo, foi secretário de Saúde do Rio
Grande do Sul de 2015 a 2018 e passou pelo ministério na gestão Fernando
Henrique Cardoso (PSDB).
Também foi presidente do Conass (conselho de secretários
estaduais de Saúde), que representa os estados nas decisões sobre o sistema de
saúde. Recentemente, foi alvo de críticas após aparecer correndo com a esposa
nas ruas de Brasília em meio à defesa de isolamento social.
Mandetta saiu em sua defesa: "O pessoal pode fazer uma
caminhada, pode ficar tranquilo. Só não pode aglomerar. O Gabbardo é
ultramaratonista, autorizei a dar uma corridinha", disse.
Alçado ao cargo por indicação de Onyx Lorenzoni e do
deputado federal Osmar Terra, Gabbardo trouxe à equipe Erno Harzheim, médico de
família e ex-secretário de Saúde de Porto Alegre e hoje responsável pelas ações
na área da atenção básica.
Gabbardo desejava ter como sua principal vitrine o programa
Médicos pelo Brasil (em substituição ao Mais Médicos, criado na gestão Dilma
Rousseff, para levar profissionais ao interior do país). Era esse seu front
mais próximo das ações e decisões do ministro.
Entre aliados, o grupo era visto como técnico, mas também
entusiasta da gestão Bolsonaro. Com frequência, medidas da pasta eram
anunciadas nas redes sociais com citação ao presidente e ao ministro.
As interferências recentes do Planalto em decisões, no
entanto, geraram um clima de mal-estar no grupo, acostumado com liberdade de
trabalho, e isso se refletiu nas postagens na rede, agora atreladas apenas ao
ministério.
A chegada do novo
coronavírus também conferiu força a Wanderson Oliveira, enfermeiro
epidemiologista, pesquisador da Fiocruz e secretário de Vigilância em Saúde da
pasta. Seu nome foi um dos últimos a ser anunciado. Na época, o próprio
ministro chegou a dizer à reportagem que estava com dificuldade em encontrar um
nome técnico como gostaria.
Sua escolha é atribuída a Agenor Álvares, sanitarista e
ex-ministro da Saúde do governo Lula (PT), a quem Mandetta pediu indicações.
Desde então, Mandetta tem definido o secretário em coletivas como o seu
"controlador de tráfego", "aquele que lê, que vê números e fica
medindo".
A presença de Oliveira tem sido respaldada por gestores
estaduais de saúde, que veem no secretário experiência em situações de
emergência –antes do coronavírus, fez parte da equipe que atuou no ministério
em resposta à emergência pelo vírus da zika. Nos bastidores, Oliveira também
tem repetido que deixará o ministério caso Mandetta saia.
A equipe que estava ao redor do ministro na mesa também tem
nomes de amigos e profissionais remanescentes de gestões anteriores.
Um deles é Denizar Vianna, médico cardiologista que assumiu
a Secretaria de Ciência e Tecnologia e de quem era próximo nos tempos de
faculdade. Outro é Francisco de Assis Figueiredo, que já era secretário da área
de assistência especializada sob Michel Temer (MDB).
Na segunda-feira, Figueiredo desceu ao térreo do ministério
para esperar a chegada do ministro com outros servidores.
Dois secretários, no entanto, estavam ausentes da mesa no
encontro desta segunda: Mayra Pinheiro, titular da Secretaria de Gestão
Estratégica em Trabalho na Saúde e conhecida por ter participado de protestos
no passado contra a vinda de cubanos ao Mais Médicos, e Robson Santos da Silva,
coronel do Exército à frente da saúde indígena.
Questionada pela reportagem, Pinheiro evitou comentar a
crise e disse que estava de plantão como intensivista pediátrica na hora da
coletiva. "Em tempos de coronavírus, sigo também fazendo o meu papel de
médica, que é salvar vidas", afirmou. A reportagem não conseguiu contato
com Silva.
Fonte: Notícias ao Minuto
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