Foto: Divulgação
Senador em primeiro mandato após 24 anos como deputado federal, Wellington Fagundes (PL-MT) tem visto a cidade em que nasceu, Rondonópolis (MT), arder em chamas.
À frente da comissão do Senado que acompanha os incêndios no Pantanal, o senador, médico veterinário de formação, trabalha para que o Estatuto do Pantanal seja concluído nos próximos meses. A legislação criará uma certificação para atividades sustentáveis na bacia do rio Paraguai, a fim de mitigar os danos ambientais na produção.
Sem culpar fazendeiros, Fagundes, 63, aponta a inércia do Estado e a falta de políticas públicas como razões da tragédia que atinge a região. Mais de 1/4 do bioma foi consumido pelo fogo neste ano, a maior parte em decorrência de ações humanas como a queima para manejo de pastagem e ampliação a área de plantio, amplificadas por um período de secas especialmente intenso.
PERGUNTA - Como os senhores pretendem trabalhar a questão da pecuária em uma área tão delicada e necessária quanto o Pantanal?
Mato Grosso do Sul fez uma modificação da lei, e Mato Grosso não. Com isso, temos uma restrição muito grande no Pantanal mato-grossense para fazer limpeza de área, a queima controlada, a formação de novas pastagem para o alimento do gado.
Como essa queima é cíclica, assim como as enchentes, tem de haver muitas chuvas nas cabeceiras para que o Pantanal realmente encha, o que não aconteceu no ano passado. Não tem reserva de água em local nenhum.
P. - Qual sua sensação ao ver tanta destruição?
O Estado como um todo não se preparou para isso. Tivemos um depoimento do próprio general [Augusto] Heleno [ministro do Gabinete de Segurança Institucional], que disse que o governo não teve tempo de se preparar e cuidar da Amazônia e do Pantanal.
Para nós aqui causa uma grande impotência. Por isso criamos nossa comissão externa, para chamar a atenção do governo e mostrar quanto tempo isso vai demorar, e ao mesmo tempo propor uma ação legislativa. Tudo com a democracia brasileira é demorado. Para chegar qualquer recurso na ponta é demorado.
E vivemos duas situações aqui, que é a pandemia, porque a Covid está no Pantanal também, e a questão dos incêndios. Vivemos uma situação de guerra no Pantanal. A Defesa Civil já veio, liberou parte dos recursos. Pelo menos temos agora a presença efetiva de Corpo de Bombeiros, de brigadistas e da Marinha.
P. - Se o governo fosse menos negacionista [em relação aos problemas ambientais] teríamos menos problemas no Pantanal?
No nosso caso, não temos uma segurança jurídica que permita o desenvolvimento sócioambiental do sistema, por isso [criar] o Estatuto do Pantanal. Para trazer a segurança jurídica, colocando essa sustentabilidade econômica com a conservação do Pantanal.
P. - O problema do Pantanal são as ocupações?
P. - O governo tem citado o clima como responsável pelas queimadas. Como o sr., presidente da comissão, fará para que o governo não se exima da responsabilidade?
A característica do Pantanal é a criação de bezerro, não tem subsídio. E o clima mudou drasticamente, a temperatura, está constatado, aumentou. O governo já admitiu isso.
P. - É aceitável que se negue tanto os problemas ambientais do país?
Nós precisamos de uma política perene, de investimentos. Por isso estamos pedindo uma audiência com o presidente da República, na qual queremos levar um diagnóstico para ele, mas a reivindicação para que o governo possa fazer de imediato um programa emergencial da recuperação do que é hoje.
P. - Qual valor vocês estimam para esse programa?
P. - O Brasil tem passado por uma série de tragédias ambientais nos últimos anos. O Pantanal não corre o risco de ser esquecido?
Esse discurso que estamos fazendo há 20, 40 anos foi repetido quase sempre da mesma forma. Por falta de política definida, o Pantanal foi ficando abandonado. As tragédias no Pantanal são resultado do abandono de políticas de governo.
P. - O sr., como aliado do governo, defende a criação do Renda Cidadã?
WF - Esses programas sociais fundamentais para garantir a vida dos desempregados e das micro e pequenas empresas, para garantir o dinheiro circulando na base.
Se não fosse a pressão do Congresso, essas políticas não existiriam. A política econômica deste governo não tinha esse viés, ele terá de refazer a política econômica, porque o presidente gostou muito dessa linha social. O governo não vai concluir [o mandato] com a mesma linha que entrou.
P. - É impossível a reforma tributária sair neste ano?
P. - O sr. defende a PEC da reeleição no Senado?
Fonte: Folha PE
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