Foto: Divulgação
Levantamento com 311 empresas no Brasil mostrou que apenas
19% delas desenvolvem políticas e ações de apoio a funcionárias vítimas de
violência doméstica. No Brasil, estima-se que 536 mulheres foram agredidas, por
hora, em 2018. Intitulada "Violência e Assédio contra a Mulher no Mundo
Corporativo", a pesquisa partiu de um trabalho conjunto entre o Instituto
Maria da Penha, o Instituto Vasselo Goldoni e o Talenses Group, grupo
empresarial de recrutamento profissional. As informações são da Agência Brasil.
Foram enviados formulários online para as empresas
participantes. Entre as que desenvolvem políticas e ações de combate ao
problema, 11% declararam que esse engajamento se dá por meio de campanhas de
sensibilização e conscientização.
Somente 9% têm um canal de ouvidoria para apoio à mulher. Na
mesma proporção, as companhias oferecem serviço de psicologia fora de suas
sedes e apoio jurídico. Um percentual inferior, de 4%, oferece suporte por meio
de uma rede de apoio constituída por mulheres vítimas de violência.
Empresas que oferecem atendimento psicológico no próprio
ambiente de trabalho totalizam 5%. Os dados mostram ainda que 13% das empresas declararam não saber se têm mecanismos de
enfrentamento à violência doméstica.
Em contrapartida, 68% das empresas consultadas consideram necessário dedicar
tempo à abordagem da violência doméstica sofrida por funcionárias.
Outro indicador importante no estudo é relativo ao perfil
das empresas que mais se empenham em iniciativas desse tipo. As de grande porte
são as que mais se comprometem quanto ao enfrentamento à violência doméstica.
Ao todo, 25% das empresas com um quadro de 499 funcionários ou mais investem
nisso.
Entre aquelas que têm até 99 empregados, a proporção das que
estruturam ações e políticas é de 17%, ficando em segundo lugar na lista. Já
entre as companhias da faixa intermediária, com um quadro de pessoal entre 100
e 499 pessoas, 11% têm iniciativas para abordar a violência contra a mulher.
No que concerne ao tipo de gestão, constatou-se que 21% dos
negócios classificados como profissionais decidiram colaborar com o combate à
violência doméstica dessa forma, ante 15% das companhias administradas por
famílias.
O estudo mostra ainda que as empresas estrangeiras tendem a
se preocupar mais. Ao todo, 22% delas contam com ações e políticas. No grupo
das nacionais, o número é de 17%.
Menos de um terço das empresas ouvidas (26%) afirmou que
monitora os casos de violência contra funcionárias e intervém, contra 55% que
declarou não fazê-lo. Dentre as justificativas apresentadas destacam-se as
seguintes: não está na agenda prioritária da organização (33%); dificuldade de
mensurar e controlar (13%) e falta de apoio da liderança (12%).
Assédio sexual
O estudo também revelou informações sobre o modo como os
empreendedores têm atuado em face do assédio sexual e moral contra mulheres. De
acordo com o TST (Tribunal Superior do Trabalho), somente no ano passado foram
movidas, na Justiça do Trabalho, mais de 56 mil ações relativas a assédio
moral.
O setor industrial recebe destaque positivo: 74% das
empresas afirmam desenvolver iniciativas para enfrentar esses crimes. Em
relação aos representantes do setor de comércio e serviços, as porcentagens são
de 57% e 54%, respectivamente.
No caso do assédio, a maior adesão se dá entre as empresas
de perfil profissional (66%) e com um quadro de mais de 499 funcionários (77%),
formado, majoritariamente, por mulheres (64%). Os dados mostram que 60% das
empresas participantes adotam ações de combate ao assédio e que o canal de
denúncias é o principal meio (38%).
A gerente de Comunicação, Marketing e Inteligência de
Mercado da Talenses, Carla Fava, ressalta que há outros fatores que podem
contribuir para o combate à violência de gênero nas organizações. Segundo ela,
ao valorizar as funcionárias, designando-as a cargos de chefia, uma empresa
estará fortalecendo essas mulheres e mitigando os prejuízos que relações de
poder podem gerar.
Na avaliação da gerente, as organizações estão mais abertas
a monitorar o assédio do que a violência doméstica porque esta última acontece
em um ambiente privado e fora das empresas.
Para Carla, esse fato reforça a impressão de que a violência
doméstica não é um problema social e que os gestores podem se eximir de
discutir o assunto, por, supostamente, não terem relação com ele. "Esse
distanciamento que tem com a violência doméstica faz com que [a empresa] tenha
dificuldade de enxergar que esse problema também é dela", afirma.
Feita ao longo de dois meses, no segundo semestre deste ano,
a pesquisa está disponível, na íntegra, no site do Talenses Group. Para
elaborá-la, os autores contaram com o apoio institucional do Instituto Patrícia
Galvão e da ONU Mulheres, entre outras entidades.
Fonte: Folha PE
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