O ano de 2019 está chegando ao fim. Para uns, não foi tão
promissor. Para outros, muitos acontecimentos positivos. E na área científica,
voltada à saúde, há muito o que se comemorar quando o assunto são os
importantes avanços alcançados.
De tratamentos a inovações médicas, as categorias atingidas
foram bem amplas. Olhando pelo lado positivo, quase deixamos de mencionar o
surto de sarampo que aterrorizou o país. escolhemos cinco fatos de 2019 que marcaram a área da Saúde com feitos que nos dão esperança no avanço da medicina, e que venham as novas descobertas de 2020.
1.Tratamento revolucionário contra o câncer testado no
Brasil
Em outubro, o funcionário público aposentado Vamberto Luiz
de Castro, 63 anos, ficou conhecido por ser o primeiro paciente a ser tratado
na América Latina a partir de uma inovadora técnica criada nos Estados Unidos
conhecida como CART-Cell.
O método consiste em reprogramar células do sistema
imunológico do próprio paciente para que elas combatam as células tumorais em
desenvolvimento no corpo.
Vamberto tinha um câncer localizado no sistema linfático e
era considerado terminal, pois já havia se espalhado para os ossos. Antes da
internação, o aposentado tinha sido tratado com radioterapia e quimioterapia,
sem progressos.
Por que traz esperança: para casos graves, normalmente,
restam apenas cuidados paliativos. A imunoterapia é uma técnica de tratamento
menos agressiva que pode eliminar a toxidade dos remédios atuais para o câncer
e responder melhor.
2. Cientistas criam mini-coração impresso em 3D com tecido
humano
Pela primeira vez, cientistas conseguiram imprimir um órgão
com células de tecido humano. O feito foi realizado por uma equipe da
Universidade de Tel-Aviv, em Israel. O pequeno coração de três centímetros é
capaz até de palpitar.
O coração 3D foi criado com células de um paciente. Os
pesquisadores israelenses fizeram uma pequena biópsia do tecido adiposo,
removeram todas as células e as separaram do colágeno e outros biomateriais.
Depois, o material foi reprogramado para atuar como células cardíacas e de
vasos sanguíneos. Os biomateriais foram então processados e transformados em
biotinta, usada na impressão 3D.
O resultado ainda é um coração “muito básico”, de acordo com
o professor Tal Dvir, um dos responsáveis pela pesquisa. As células podem se
contrair, mas o coração completo não bombeia. Precisando desenvolvê-lo mais.
Por que traz esperança: o estudo abre portas para que, no
futuro, pacientes não precisem mais esperar por transplantes, nem se preocupar
com a rejeição do organismo já que os órgãos serão impressos a partir de
células do próprio paciente.
3. Tetraplégico recupera movimentos com exoesqueleto movido
pela mente
Um homem francês de 30 anos identificado apenas como
Thibault recuperou os movimentos dos braços e das pernas graças a um
exoesqueletro controlado por sensores em seu cérebro. O paciente ficou
tetraplégico em 2015, quando caiu de uma altura de 15 metros. Por enquanto, a
tecnologia ainda está sendo aprimorada e seu uso ocorre apenas em laboratório.
Para fazer o paciente andar novamente, os cientistas
colocaram implantes na superfície do cérebro de Thibault. Ao todo, foram
instalados 64 eletrodos em cada um dos implantes. Os eletrodos têm a função de
ler a atividade cerebral e direcionar as instruções de movimentos para um
computador. A máquina, por sua vez, utiliza um sofisticado programa, lê as
informações das ondas cerebrais do paciente, transformando-as em comandos que
controlam o exoesqueleto.
O experimento, feito pela Clinatec e a Universidade de
Grenoble, começou em 2017. O exoesqueleto pesa 65kg e, com ele, o paciente é
capaz de mover braços e pernas. Contudo, nem todas as funções do corpo estão
completamente restauradas.
Por que traz esperança: o dispositivo é um avanço
inestimável para o desenvolvimento de alternativas para pacientes que tenham
perdido os movimentos.
4. Cientistas descobrem segunda mutação genética resistente
ao HIV
Uma mutação genética rara relacionada à distrofia muscular
de cinturas (DMC) permitiria uma imunidade natural contra o vírus da aids. De
acordo com os cientistas, a informação pode abrir caminho para o
desenvolvimento de novas drogas contra o HIV.
Segundo os autores do trabalho, a mutação atinge o gene
Transportina 3 (TNPO3). Ele foi identificado em uma família espanhola afetada
pela DMC. Os médicos tiveram a ideia de infectar em laboratório amostras de
sangue dessa família com o HIV após descobrirem que outra equipe de
pesquisadores estudava justamente o papel desse gene no transporte do vírus da
aids para o interior das células.
Após a experiência, os médicos observaram que os linfócitos
(células de defesa do organismo) da família apresentavam uma resistência
natural contra o HIV, pois o vírus não foi capaz de infectar as células. Os
cientistas ainda não sabem o motivo, mas pelo menos 5% dos pacientes infectados
com o HIV não desenvolvem a doença. Até o momento, apenas uma outra mutação
genética rara – do gene CCR5 – tinha sido identificada como capaz de inibir a
propagação do vírus.
Por que traz esperança: pode significar uma nova chance para
pacientes com HIV.
5. Cientistas espanhóis criam ser híbrido de humano e macaco
na China
Pesquisador Juan Carlos Izpisúa criou pela primeira vez um
ser híbrido, de humano com um primata, num laboratório da China. O experimento
faz parte de um projeto para transformar animais de outras espécies em fábricas
de órgãos para transplantes.
A equipe de Izpisúa alterou geneticamente os embriões de
macacos, desativando genes essenciais na formação dos órgãos dos animais e, em
seguida, implantou células humanas apropriadas para gerar qualquer tipo de
tecido nos embriões. O ser híbrido formado durante os experimentos só não
chegou a nascer porque os pesquisadores interromperam a gestação. “Os
resultados são muito promissores”, afirmou a pesquisadora Estrella Núñez, que
faz parte do grupo do geneticista.
O campo de estudos de Izpisúa é bastante polêmico e, por
isso, os experimentos foram realizados na China. De maneira geral, as
experiências com seres híbridos são interrompidas depois de 14 dias de
gestação, por conta dos limites éticos. Entre as questões levantadas por este
tipo de manipulação genética está, por exemplo, a possibilidade de as células
injetadas se transformarem em neurônios humanos no cérebro dos animais.
Por que traz esperança: milhões de pessoas que estão em
filas para receber órgãos poderiam ser salvas sem a espera por doadores.
6. Cientistas identificam novo subtipo do vírus HIV
Pela primeira vez desde os anos 2000, um novo subtipo do vírus
da aids foi identificado – uma nova cepa do grupo M do HIV foi denominada como
subtipo L e é “puro”, ou seja, não se mistura com outros subtipos como acontece
normalmente. A descoberta foi feita por um grupo mundial de pesquisadores que
participam do Programa Global de Vigilância Viral da farmacêutica Abbott.
Ainda não há informações sobre a presença do subtipo L no
Brasil, e nada muda no diagnóstico e tratamento para as pessoas vivendo com o
vírus. A indústria farmacêutica, em posse do sequenciamento genético da nova
cepa, deve incluí-la nos testes de eficácia de novas vacinas contra o HIV.
Essa versão do vírus, que foi encontrada na República
Democrática do Congo, provavelmente existe desde os anos 1980, mas só agora
está identificada. Para classificar uma nova cepa de HIV, ela precisa aparecer
em três episódios confirmados e distintos: a L foi verificada em casos nas
décadas de 1980, 1990 e em 2001, mas a quantidade de vírus na amostra era
pequena e a tecnologia não era avançada o suficiente para fazer o
sequenciamento genético
Por que traz esperança: a descoberta do novo subtipo não é
razão para se assustar: como seu aparecimento não é catalogado há muitos anos,
provavelmente é uma variação rara do HIV.
7. Remédio para apagar memórias desagradáveis está em fase
de testes
O médico Alain Brunet, da Universidade McGill, no Canadá, é
o responsável por um estudo com 60 pessoas de coração partido, que gostariam de
esquecer algum momento do fim do relacionamento. A pesquisa utilizou uma droga
barata para equilibrar a pressão sanguínea enquanto os participantes liam um
documento que descrevia, com detalhes, a memória a ser esquecida e respondiam
perguntas pessoais sobre suas emoções.
Os pacientes passaram pelo processo entre quatro e seis
vezes para reativar a memória e diminuir sua força bloqueando as sinapses
necessárias para solidificá-la. Segundo o médico, o medicamento pode aliviar a
dor associada às lembranças desagradáveis. O estudo aguarda revisão.
Por que traz esperança: a ideia não é apagar completamente a
memória, mas torná-la menos importante para que o paciente consiga tocar a
vida.
8. Estudo sugere que é possível reverter a idade biológica
do corpo
Um estudo pequeno e preliminar, com apenas nove “cobaias”
humanas, realizado nos Estados Unidos, pode ter descoberto uma forma de girar
os ponteiros do relógio biológico no sentido anti-horário.
Tratada com destaque pela revista Nature, uma das publicações
científicas mais respeitadas do meio, a pesquisa surpreendeu até os
responsáveis da Universidade da Califórnia. Durante um ano, os voluntários
tomaram um coquetel de três medicamentos (um hormônio de crescimento e duas
medicações contra o diabetes) e, analisando biomarcadores do genoma de cada
participante, suas idades biológicas voltaram em 2,5 anos, em média. Também foi
observado um rejuvenescimento do sistema imune.
Os resultados são preliminares, uma vez que não houve grupo
de controle (que não tomasse o remédio, para fins de comparação) e são poucos
participantes.
Por que traz esperança: além da questão física, podendo
rejuvenescer o sistema imune, muitas doenças que surgem nos idosos, pois a
imunidade já está fragilizada, poderão ser evitadas.
9. Cientistas conseguem detectar Parkinson 20 anos antes dos
sintomas
Causada por uma má regulação dos níveis de dopamina, a
Doença de Parkinson é uma condição neurológica degenerativa que tem sintomas
conhecidos: tremedeiras involuntárias, rigidez dos músculos, depressão e
problemas na memória. Tradicionalmente associada a indivíduos idosos,
cientistas conseguem, pela primeira vez, detectar os sinais 20 anos antes dos
sintomas, de fato, se manifestarem.
Os pesquisadores da King’s College London, na Inglaterra,
analisaram o cérebro de 14 pessoas com mutações raras do gene SNCA — esses
indivíduos muito provavelmente desenvolverão Parkinson. Os exames foram
comparados a outros de 65 pacientes com a doença e 25 saudáveis. A descoberta é
que há uma redução gradativa na produção de serotonina no cérebro de quem terá
a doença algum dia. A substância regula humor, apetite, movimentos e bem-estar.
De acordo com Marios Politis, principal autor do estudo, a
mudança na quantidade de serotonina acontece muito antes da dopamina começar a
decair.
Por que traz esperança: esse conhecimento pode abrir portas
para o desenvolvimento de novas terapias que ataquem a doença muito antes dos
sintomas aparecerem, evitando o crescente número de pessoas cujas vidas são
seriamente afetadas por essa doença hedionda
Fonte: Metrópoles
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