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segunda-feira, 30 de dezembro de 2019

EUA atacam forças pró-Irã no Iraque e na Síria e matam 19 combatentes

                  Foto: Ahmad Al Rubaye/AFP

O Exército americano bombardeou no domingo (29) as bases de uma milícia armada pró-iraniana no Iraque e matou 19 de seus combatentes, dois dias depois de um ataque com foguete resultar na morte de um americano no Iraque.

Algumas horas após estes bombardeios, quatro foguetes foram interceptados perto de uma base que abrigava soldados americanos nas proximidades de Bagdá, informou um encarregado dos serviços de segurança.

Os bombardeios americanos se concentraram em bases e depósitos de armas das brigadas da milícia do Hezbollah iraquiano, na fronteira entre Iraque e Síria, afirmou o porta-voz do Pentágono, Jonathan Hoffman.

Em Washington, o secretário americano da Defesa, Mark Esper, disse que os ataques foram bem sucedidos e não descartou ataques adicionais, se "necessário".

"Os ataques foram bem sucedidos", disse Esper à imprensa depois que caças F-15 atacaram cinco alvos associados ao movimento islamita Hezbollah no oeste do Iraque e no leste da Síria.

"Tomaremos medidas adicionais, se necessário, para nos assegurarmos de que agimos em defesa própria e dissuadimos outros maus comportamentos de grupos de milicianos ou do Irã", completou.

Os bombardeios contra as bases e paióis de armas das brigadas do Hezbollah na fronteira entre o Iraque e a Síria ocorrem após dois meses de uma escalada sem precedentes nos disparos de foguetes contra interesses americanos no Iraque, um país sacudido por uma revolta contra o poder e seu patrocinador iraniano, enquanto Washington tem se distanciado politicamente.

A Hashd al Shaabi, coalizão de paramilitares dominada pelos pró-iranianos e atualmente integrada às forças de segurança iraquianas, anunciou um balanço de 19 mortos - entre combatentes e comandantes - e 35 feridos em bombardeios americanos lançados no oeste da província desértica de Al-Anbar, que vai de Bagdá à fronteira síria.

Os ataques americanos visaram, segundo o porta-voz do Pentágono, Jonathan Hoffman, a "enfraquecer as capacidades das brigadas do Hezbollah de lançar futuros ataques".

O secretário americano de Estado, Mike Pompeo, afirmou que Washington "não aceitará que a República Islâmica do Irã execute ações que coloquem em perigo os americanos".
Atacantes bem informados

Desde 28 de outubro, onze ataques visaram bases militares iraquianas onde estão posicionados militares e diplomatas americanos e inclusive a embaixada americana, na ultrassegura Zona Verde de Bagdá.

Os dez primeiros ataques deixaram um morto e vários feridos entre militares iraquianos, assim como perdas materiais, mas o da noite de sexta foi uma reviravolta.

Não só resultou na morte de um trabalhador terceirizado americano mas, pela primeira vez, 36 foguetes foram abatidos sobre uma única e mesma base onde estão posicionados os militares dos Estados Unidos, segundo uma fonte americana.

Os projéteis tinham como alvo a base K1 em Kirkuk, região petroleira ao norte de Bagdá, que o Curdistão disputa com autoridades iraquianas, com uma precisão inédita.

"Os tiros visavam precisamente a zona onde se encontravam os americanos, perto da sala de reuniões", no momento exato em que altos comandantes da polícia iraquiana e da coalizão internacional antijihadista deveriam estar reunidos informou um encarregado iraquiano à AFP.

Eles deveriam dirigir uma vasta operação nas regiões montanhosas onde ainda se escondem células do grupo Estado Islâmico (EI), abortada na última hora devido a condições meteorológicas desfavoráveis, segundo a Polícia.

As fontes americanas responsabilizaram por muitos destes ataques as brigadas do Hezbollah, uma das facções pró-Irã da Hashd al Shaabi iraquiana, coalizão de paramilitares formada em 2014 para combater os jihadistas e hoje integrada às forças de segurança iraquianas.

As brigadas do Hezbollah, fortemente armadas, treinadas e financiadas pelo Irã, operam em parte no âmbito da Hashd - portanto com as tropas regulares iraquianas - e em parte de forma independente, sobretudo na Síria, onde são complementares às forças do regime de Bashar al Assad.

"Expulsar o inimigo americano"

O porta-voz militar do primeiro-ministro demissionário, Adel Abdel Mahdi, comandante-em-chefe das Forças Armadas, denunciou "uma violação da soberania iraquiana", enquanto que a classe política relançou uma campanha no Iraque para expulsar os americanos do país.

As brigadas do Hezbollah apelaram a "expulsar o inimigo americano", enquanto outra facção pró-iraniana, a Assaib Ahl al-Haq, cujos líderes foram recentemente alvos de sanções americanas, relançou a campanha conduzida regularmente por seus representantes no Parlamento para expulsar os americanos do país.

"A presença militar americana se tornou um fardo para o Estado iraquiano e, sobretudo, razão para ameaças e ataques contra nossas forças", declarou a organização em um comunicado. "Daqui em diante é imperativo para todos fazermos tudo para expulsá-los por todos os meios legítimos".

O número dois do Parlamento iraquiano, egresso do movimento conturbado do líder xiita Moqtada Sadr, pediu que o Estado "tome as medidas necessárias" frente aos ataques americanos, assim como a poderosa organização Badr, outra facção armada pró-Irã.

Crise social e política

Os ataques aos interesses americanos ou a bases de grupos pró-Irã também fazem temer algo que os dirigentes iraquianos advertem há meses: que seus dois aliados, o americano e o iraniano, utilizem o território iraquiano como campo de batalha.

Hoje, no entanto, a relação de forças mudou no país, onde ainda estão estacionados 5.200 militares americanos. Teerã reforçou sua influência no país vizinho, em detrimento de Washington, que tem sido ausente ou quase depois de três meses de uma revolta sem precedentes.

Depois da demissão do governo iraquiano, há cerca de um mês, a República Islâmica e seus aliados no Iraque pressionam para colocar um de seus homens no cargo de primeiro-ministro. Devido à intransigência iraniana, o presidente Barham Saleh ameaça também se demitir.

A instabilidade política foi desencadeada pela pior crise social registrada no segundo produtor de petróleo da Opep, que deixou cerca de 460 mortos e 25 mil feridos.

Os manifestantes protestaram contra as autoridades e seus parceiros iranianos e paralisaram a administração e as escolas em quase todas as cidades do sul do país. Desde sábado, conseguiram interromper pela primeira vez depois de um mês a produção - de 82.000 barris por dia - de um campo petrolífero no sul iraquiano.

Fonte: Diário de Pernambuco

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