A participação das mulheres no setor espacial é o tema de um
evento internacional que será sediado este ano pelo Brasil, o Space for Women.
O encontro deve reunir cerca de 200 pessoas em Brasília, entre os dias 30 de
novembro e 2 de dezembro.
Será a segunda edição do evento, promovido pelo Escritório
das Nações Unidas para Assuntos do Espaço Exterior (Unoosa). A primeira foi
realizada em Nova York, em 2017. A organização no Brasil está sendo feita pelo
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) com apoio da Agência Espacial
Brasileira e do Ministério de Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações.
Em entrevista exclusiva ao Universo, da Radioagência Nacional,
a chefe de Relações Internacionais do Inpe, Adriana Thomé, fala sobre como foi
propor o Brasil como sede do evento, que é considerado um marco na luta pela
igualdade de gênero em áreas envolvendo a ciência, a astronomia e o espaço.
Para ela, ter o Brasil inserido nessas discussões é um passo
para a conscientização da sociedade e de organizações sobre a importância de
ter mais mulheres em áreas científicas e à frente de pesquisas, inclusive,
envolvendo o espaço. "Iniciativas como o Space for Women têm também a
missão de mostrar como essa força de trabalho exercida por mulheres de sucesso
pode influenciar as próximas gerações'', diz Adriana Thomé.
Leia a entrevista a seguir:
Radioagência Nacional: Uma boa notícia no Mês da Mulher é o
Brasil já ter data marcada para a realização do Space for Women, não é?
Adriana Thomé: Esse evento é organizado pelo Brasil em
conjunto com a ONU, por meio do Escritório das Nações Unidas para Assuntos do
Espaço Exterior. O primeiro foi em Nova York, em 2017. O Unoosa tem uma
plataforma que se chama Space for Women, que prevê várias iniciativas para o
empoderamento feminino na área do espaço. Uma das iniciativas é o evento.
Então, o Brasil propôs à Unoosa realizar conjuntamente esse
evento, que vai ocorrer de 30 de novembro a 2 de dezembro. Foi, inicialmente,
uma proposta do Inpe, que conta com o apoio da Agência Espacial Brasileira e do
MCTIC. Estamos organizando tudo em conjunto com a ONU.
Radioagência Nacional: Este é um momento oportuno, da
recente caminhada espacial 100% feminina e da expectativa de uma missão
espacial que levará mulheres à Lua. Como o Brasil se percebe neste cenário de
empoderamento das mulheres na área espacial?
Adriana Thomé: Acredito que o evento, em particular, será
excelente oportunidade para que o Brasil possa olhar com um pouco mais de
carinho para a questão. O objetivo é justamente fazer com que as pessoas se
conscientizem de algumas ações que são importantes na área espacial em relação
às mulheres. Muitas pessoas me perguntam que iniciativas como essa já existem
no Brasil. E, obviamente, já existem pequenas iniciativas. Mas não uma
iniciativa que venha de cima para baixo. Então, o Space for Women vem
justamente para conscientizar as pessoas aqui no Brasil, tanto a sociedade em
geral quanto os órgãos que cuidam da área espacial. Quem sabe depois dele a
gente possa ter, conquistar algumas políticas bem interessantes para mulheres
na área do espaço.
Radioagência Nacional: A Unoosa mostra que os números são
bem discrepantes quando envolvem a força de trabalho no mundo em áreas
relacionadas ao espaço, sendo 20% mulheres e 80% homens. Assim, como em áreas
ligadas ao chamado STEM - que são as ciências, tecnologias, engenharias e
matemática. Nesse caso, são 28,2% de mulheres e 72,2% de homens.
Esse fenômeno
mundial se reflete aqui no Brasil?
Adriana Thomé: Sim, ele se reflete. A gente percebe,
especialmente em órgãos técnicos como o Inpe, que existe grande discrepância
entre a quantidade da força de trabalho de mulheres e homens. Isso é uma coisa
importante de ser melhorada, mas também é importante a partir de iniciativas
como essas, que passemos a olhar as pessoas que estão na área para que tenham
as mesmas oportunidades de chegar a posições de chefia. Esse é outro desafio
muito ou tão sério quanto ao do número de pessoas. De fato, para que as
mulheres, que trabalham tanto, tenham condições de chegar a posições de
destaque e chefias, para que possam falar por elas mesmas.
Radioagência Nacional: Estudos mostram que a puberdade é o
primeiro desafio para as meninas se manterem na ciência. E segue ao longo da
carreira, sendo, lá na vida adulta, a dupla jornada como uma das justificativas
de empecilho para seguir na carreira. Qual sua visão sobre isso?
Adriana Thomé: Acredito que a dupla jornada é um desafio
muito grande, mas todas as mulheres que conheço, pesquisadoras ou em cargos de
chefia, fazem isso muito bem, aprenderam a conciliar. Eu acho que o maior
problema, às vezes, é dentro das organizações, porque as pessoas assumem que
determinadas mulheres não podem assumir cargos ou funções porque têm família e
filho. Muitas vezes, as mulheres nem são consultadas. Mas, isso quem pode
responder são elas. As pesquisas mostram que as meninas na puberdade começam a
se desinteressar até por pressão familiar. Muitas vezes, porque a família não
acredita que a profissão na área de exatas seja bem-vinda para uma menina. Por
isso, esse evento no Brasil será importante para mostrar modelos de mulheres
que tiveram sucesso na sua carreira, para que as nossas meninas tenham alguém
em quem possam se inspirar. Se elas sempre perceberem homens nesses cargos, vão
achar que aquilo não é para elas. Mas, quando veem mulheres que atingiram
pontos interessantes na carreira, isso pode servir de estímulo.
Radioagência Nacional: O governo brasileiro tem investido em
projetos como as olimpíadas de astronomia e de exatas e as universidades têm
tido um protagonismo em ações que aproximam as meninas da ciência. Como avalia
essas iniciativas?
Adriana Thomé: Existem outras iniciativas sendo tomadas e eu
acredito que são muito válidas. E, principalmente, para tentar mudar as novas
gerações. Se conseguirmos mudar as novas gerações, já será válido. Além da
conscientização das organizações, a oportunidade de esta nova geração poder ter
contato com instituições que fazem pesquisa, com mulheres que fazem isso, pode
fazer grande diferença no futuro das meninas.
Radioagência Nacional: Quando a gente fala do espaço, fala em
uma questão científica, mas também econômica. O mercado da astronomia movimenta
bilhões de dólares e é considerado muito promissor para as próximas décadas. Como falar para as mulheres e meninas que elas terão um mercado de trabalho promissor?
Adriana Thomé: Inclusive, nesse evento da ONU estarão
presentes agentes do governo, pesquisa, universidades e indústrias. Então, o
objetivo é também incentivar a participação feminina nas indústrias da área do
espaço.
Radioagência Nacional: Temos mais detalhamentos sobre a
programação do evento?
Adriana Thomé: O evento foi transferido de São José dos
Campos, em São Paulo, para Brasília, por uma questão de logística. Até pela
participação do ministro da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes, e outras
autoridades. Quanto à pauta, ela ainda sendo negociada, mas a divulgação será
feita, em breve, pela Unoosa.
Fonte: Gazeta de Alagoas
Tags: #mulheres #evento #setor espacial
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