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Segundo a Associação Brasileira
de Sono, cerca de 73 milhões de pessoas do país sofrem com algum distúrbio para
dormir. Durante a quarentena, então, a tendência é que o estresse, a ansiedade
e a depressão alterem ainda mais a rotina diária da população.
"Estar recluso em casa, o medo de ter impacto na sua
saúde e na de familiares, a incerteza do futuro e a insegurança econômica são
fatores que podem ocasionar dificuldade de iniciar o sono, despertares noturnos
frequentes e cansaço no dia seguinte", diz Gustavo Moreira, médico
especialista do Instituto do Sono.
Nos últimos anos, novos estudos estão sendo feitos sobre a
influência da falta ou do excesso de sono na vida das pessoas, e o distanciamento
social será importante nesse contexto.
"Durante a quarentena, mudamos nosso padrão de vida e
não dá para esperar que vamos dormir ou acordar no mesmo horário de quando
estávamos trabalhando. Isso, sim, traz uma grande repercussão na nossa
qualidade de sono. Inclusive, levando ao aumento do risco de doenças como
obesidade, diabetes e alterações cardiovasculares", diz Gustavo Mury,
otorrino do Hospital Cema.
Para tentar controlar o organismo nessa fase de reclusão e
manter uma rotina saudável tanto de dia quanto de noite, os especialistas
receitam fazer uma higiene do sono (veja abaixo). "A maioria dos
distúrbios do sono não é resolvida com medicação, mas com hábitos, atividades e
atitudes que temos de ter para melhorar a qualidade do sono", completa Mury.
Além de diminuir a qualidade do sono, os distúrbios também
podem afetar a imunidade das pessoas, provocando outros tipos de doença.
"O hormônio do sono, melatonina, tem o efeito de
regular o ciclo sono/vigília. Ou seja, atividade durante o dia e repouso à
noite. Com o isolamento social, a pessoas tendem a dormir tarde e/ou ter
horários irregulares de dormir e acordar. Assim, haverá um descompasso da
secreção de melatonina com os hábitos de sono da pessoa. Isso desregula a
atividade de diversos sistemas: cardiovascular, neurológico, metabólico e
imunológico. Além disso, a melatonina também tem um efeito no sistema
imunológico, ativando as células e proteínas necessárias para o combate a
infecções", explica Gustavo Moreira.
Segundo Mury, a literatura do sono já traz um termo que
ajuda a explicar o descompasso que acomete as pessoas durante alterações
bruscas de horários.
"Vem surgindo mais recentemente o termo jet leg social,
que é quando a pessoa tem um final de semana ou feriadão em que viaje e que
venha a alterar o seu padrão de sono. Antes, ela dormia das 23h às 6h e depois
vai dormir da 1h às 11h. Isso traz uma alteração brusca no padrão de sono. O
jet leg social está associado ao índice de diabetes e de outras doenças
metabólicas", diz.
Quando ajuda é necessária A determinação da quarentena
durante a pandemia do novo coronavírus foi especialmente traumática para os
profissionais autônomos, que só recebem pagamento se trabalharem.
Como a economia está parada, eles são os que mais sofrem com
a ansiedade, o que acarreta na insônia.É o caso da corretora de imóveis Denise
Macedo dos Santos, 38 anos, que precisou procurar a ajuda de uma psiquiatra
para manter o controle com medicação.
"Estou triste, agoniada e com crise de pânico porque
estou sem expectativa do que vai acontecer. Não estou vendo saída. As pessoas
brincam com a quarentena, fazem festas, viajam. Ninguém está nem aí. Só levam a
sério quando perdem alguém próximo. Fico pensando nisso e não consigo
dormir", desabafa Denise, que diz estar tomando remédio controlado após
procurar um psiquiatra por temer "pensamentos ruins".
A corretora já parou de assistir ao noticiário, mas a
simples saída de casa vira um martírio. "Quando saio na rua fico triste
porque o olhar das pessoas está triste. Quando deito, fico agoniada porque não
sei como vai ser o outro dia."
Ela chegou até a postar um desabafo no Instagram, o que
gerou muitas mensagens positivas que a ajudaram a enfrentar o problema.
Assim como Denise, a fisioterapeuta autônoma Kátia Correia
Amarante, 38, tem se medicado diariamente após passar em um psiquiatra. Ele diz
que já tinha um pouco de insônia, mas que agora, com a quarentena, está bem
pior.
"Estou preocupada com tudo, com medo de morrer, com
medo de me contaminar e de contaminar meus pais. Mesmo com o remédio ainda
acordo à noite às vezes", conta.
HIGIENE DO SONO
A insônia é a dificuldade para pegar no sono e manter-se
dormindo por horas suficientes, apesar das condições ideais. Ela pode ser
aguda, e durar menos de três semanas, ou crônica, ocorrendo pelo menos três
vezes na semana, em períodos superiores a um mês.
CAUSAS
- As causas mais comuns da insônia aguda são os fatores estressores, como:
- Mudança no ambiente de dormir
- Alterações no turno de trabalho
- Uso de substâncias estimulantes (como cafeína e nicotina)
- Estresses psicológicos intensos
- Depressão
- Alterações hormonais, como na menopausa
- Uso de drogas ilícitas
- Uso prolongado de remédios para dormir
- Não ter bons hábitos de sono, como não respeitar o horário de dormir e acordar
- Síndrome do Jet Lag ou da mudança dos fusos horários
- Mudanças contínuas de horários, como ocorre com profissionais que trabalham por turnos
- Envelhecimento, pois os idosos estão mais propensos a alterações do sono e dificuldades para dormir
- A insônia crônica tem como principal causa a má higiene do sono, e, em menor frequência, pode estar ligada a doenças neurológicas, como Mal de Parkinson ou Alzheimer, e fibromialgia.
HÁBITOS CONTRA A INSÔNIA
- Estipular um horário para deitar-se e acordar, criando uma rotina de sono e despertar
- Evitar sestas e cochilos ao longo do dia
- Não consumir bebidas alcoólicas e cigarros, alimentos e bebidas com cafeína por pelo menos 4 horas antes de dormir
- Praticar exercícios físicos regularmente, mas evitá-los 2 horas antes de dormir
- Fazer refeições leves ao jantar, evitando comer em excesso. Evitar os alimentos pesados, muito temperados e muito gordurosos
- Deixar amena a temperatura do quarto, por volta de 21ºC
- Promover um ambiente silencioso e com pouca luz no quarto
- Desligar dispositivos como celulares, TVs, relógios digitais ou telas azuis no quarto na hora de dormir
- Evitar trabalhar ou fazer refeições na cama
- Ter hábitos saudáveis, como alimentar-se bem e praticar atividades físicas
- Fazer exercícios de relaxamento, como mindfulness ou ioga
- Evitar o uso crônico de medicações para insônia, pois podem causar efeito oposto ao desejado, além de trazer uma série de consequências danosas para a saúde
SONO EXCESSIVO
O cansaço excessivo geralmente indica falta de tempo para
descansar, mas também pode ser um sinal de algumas doenças como:
- Anemia
- Diabetes
- Alterações da tireoide
- Depressão
- Apneia do sono
- Fibromialgia
- Doenças cardíacas, como arritmia e a insuficiência cardíaca
- Infecções, como gripes e resfriados
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