Foto: Reprodução/Pixabay
A Assembleia Nacional da Hungria aprovou nesta segunda-feira
(18) uma lei que substitui a categoria de "sexo" no registro civil
por "sexo atribuído em nascimento", definido como "sexo
biológico baseado em características sexuais primárias e cromossomos". Na
prática, o texto impede que transgêneros possam alterar seus documentos.
Proposta pelo governo de Viktor Orbán no Dia Internacional
da Visibilidade dos Transgêneros, 31 de março, a lei foi aprovada com os votos
da coligação nacionalista conservadora que sustenta o primeiro-ministro,
formada pelos partidos Fidesz e Democrata Cristão, que tem 133 das 199
cadeiras. Deve agora ser sancionada pelo presidente János Áder, aliado de
Orbán.
O governo do premiê já tinha congelado desde 2017 os
processos de mudança de gênero em documentos; com a aprovação da lei, os
pedidos em espera serão cancelados.
Em maio do ano passado, o presidente da Assembleia, László
Kövér, também aliado de Orbán, comparou em discurso casais homossexuais que
adotam crianças a pedófilos, reproduzindo associação feita por líderes
religiosos poloneses.
Nas últimas semanas, premiê húngaro se recusou a ratificar a
Convenção de Istambul, que trata do combate à violência contra a mulher e à
violência doméstica, por causa da definição de gênero como construção social.
O novo passo conservador de Orbán, que desde 30 de março
obteve o direito de governar por decreto por tempo indeterminado, levantou
críticas de entidades de direitos civis e de gênero, que temem retrocesso até
mesmo para quem já conseguiu retificar seus papéis.
Para Masen Davis, diretor-executivo-interino da Transgender
Europe, Orbán está aproveitando a crise do coronavírus para "reverter os
direitos de um grupo já marginalizado".
Segundo a ILGA (associação internacional de LGBTI), a lei
aprovada na Hungria desrespeita jurisprudência do Tribunal Europeu de Direitos
Humanos, que entende que o sexo pode ser mudado para proteger os direitos
humanos das pessoas trans e intersexuais à vida privada e familiar, à saúde, ao
casamento e ao reconhecimento perante a lei.
Katrin Hugendubel, diretora da seção europeia da ILGA, diz
que o novo texto expõe pessoas trans e intersexuais a estigma, discriminação,
assédio e violência toda vez que usarem seus documentos de identidade,
"seja no banco, quando vão ao médico, se candidatam a um emprego ou tentam
fazer um contrato de telefone celular".
A definição estabelecida pelos parlamentares húngaros também
contraria convenções globais estabelecidas pela Organização Mundial da Saúde,
que retirou "transtorno de identidade de gênero" de sua lista de
doenças no ano passado, reconhecendo a identificação como transgênero.
A nova lei também vai contra a opinião pública húngara,
afirma a ILGA. Segundo a entidade, pesquisa de opinião feita em 2019 mostrou
que 70% da população aprova que transgêneros possam mudar o sexo em seus
documentos.
A Hungria tem um dos piores resultados no ranking de
desigualdade de gênero do Fórum Econômico Mundial, que compara países em quatro
dimensões: participação econômica e oportunidade, desempenho educacional, saúde
e sobrevivência e participação política: está em 105º lugar entre 153 nações.
Fonte: Diário de Pernambuco
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