Imagem: Ilustração
A taxa de feminicídio em Alagoas é a maior do País, conforme
Mapa da Violência, publicado ontem pelo portal G1, em parceria com o Núcleo de
Estudos da Violência, da Universidade de São Paulo (USP) e o Fórum Brasileiro
de Segurança Pública (FBSP). Aqui, no ano passado, ocorreram 2,5 mortes de
mulheres por cada grupo de 100 mil habitantes, mesma proporção registrada no
Acre.
Em números absolutos, este tipo de crime, caracterizado pelo
ódio cometido contra a mulher, mais que dobrou de um ano para o outro. Foram
contabilizados 20 casos, em 2018, e 44, em 2019, um aumento de 120%, conforme
dados oficiais do Núcleo de Estatística da Secretaria de Estado da Segurança
Pública (SSP).
Os homicídios dolosos praticados contra pessoas do sexo
feminino (que excluem os feminicídios) também cresceram por aqui. Em 2018,
foram 44 casos registrados e, em 2019, 45. O ápice destes crimes, no estado,
aconteceram no ano de 2017, quando 74 mulheres foram vítimas.
No Brasil, a pesquisa revelou que, em 2019, os homicídios
femininos apresentaram redução de 14%, algo previsível diante da queda de 19%
nos assassinatos no ano passado. Foram 614 vidas poupadas, sendo que 56% de
toda a redução ocorreu em apenas duas unidades da federação: Ceará e Pará.
Em janeiro deste ano foram divulgados dados que já
sinalizaram o crescimento vertiginoso de feminicídios em Alagoas. Uma pesquisa
feita pelo Grupo Globo em 15 unidades da Federação e no Distrito Federal, feita
a partir de análise feita entre janeiro e novembro do ano passado, colocou o
estado no topo do ranking.
O levantamento, também confirmados pela Gazeta junto à
Secretaria de Estado da Segurança Pública (SSP), revelaram que, em 11 meses,
foram registrados 41 feminicídios em Alagoas. No mesmo período de 2018,
ocorreram 17, o que representa um crescimento comparativo de 141%.
Membros da rede que acolhe as vítimas apontam que estes
crimes continuam diretamente ligados ao machismo, à falta de estrutura da
Polícia Judiciária para as investigações, à morosidade do Judiciário em
concluir os processos contra os autores dos crimes e à ausência de políticas
públicas específicas para elas.
Na opinião da advogada Mylla Bispo, do Centro de Defesa dos
Direitos da Mulher de Alagoas, a falta de políticas públicas voltadas para a
mulher alagoana impede que se quebre o ciclo vicioso que amedronta a maioria
das vítimas no estado. Para ela, o Estado deveria disponibilizar assistência
para a mulher seja nas áreas de educação, segurança, emprego e lazer.
Ela também faz críticas ao trabalho investigativo por parte
da Polícia Civil, embora reconheça que a estrutura das Delegacias da Mulher em
Maceió melhorou ao longo dos anos. Mesmo assim, diz que a estrutura oferecida à
população está longe da ideal, seja no horário do expediente, na quantidade de
servidores ou no atendimento correto e mais humanizado às vítimas.
"Estas especializadas só funcionam de segunda a
sexta-feira, no horário comercial, deixando as vítimas sem opção durante a
noite e aos fins de semana. Com o passar do tempo, é sabido que muitas mulheres
se desencorajam para o registro do Boletim de Ocorrência", observa ela,
que completa ser nítida a falta de servidores nesses locais, atrasando as
investigações.
A presidente da Associação para Mulheres em Alagoas (AME),
Júlia Nunes, diz acreditar que a situação possa ser ainda mais grave,
levando-se em consideração que muitos inquéritos de episódios envolvendo mortes
violentas de mulheres não foram concluídos. Sem falar nas tentativas de
feminicídio, que não estão nas estatísticas.
Ela acrescenta que, na maioria das vezes, os crimes desta natureza acontecem por puro machismo e por patologias psicológicas geradas após fins de relacionamentos, sendo as mulheres tratadas como verdadeiros objetos por seus companheiros.
Fonte: Gazeta de Alagoas
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