Foto: Fabio
Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
A Polícia Federal cumpriu, ontem, 29 mandados de busca e
apreensão contra alvos bolsonaristas suspeitos de disseminar notícias falsas. A
operação — parte do inquérito do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre fake news
— foi realizada em seis estados por decisão do ministro Alexandre de Moraes,
relator da investigação no Corte. Ele também determinou a quebra de sigilos
fiscal e bancário de suspeitos de financiar o suposto sistema criminoso.
Na decisão, Moraes aponta indícios da existência do chamado
Gabinete do Ódio, uma rede de propagação de notícias falsas e de ataques contra
instituições com a finalidade de desestabilizar a democracia. No centro das
articulações, de acordo com o magistrado, estão blogueiros que apoiam o governo
do presidente Jair Bolsonaro, empresários e parlamentares. Para o juiz da
Suprema Corte, investigações realizadas pela Polícia Federal revelam uma verdadeira
associação criminosa em atividade na capital do país e que se espalha para os
estados.
As buscas de ontem miraram 17 investigados, incluindo o
ex-deputado federal Roberto Jefferson, presidente nacional do PTB; o empresário
Luciano Hang, dono da Havan; e os blogueiros Allan dos Santos e Winston Lima.
Moraes determinou o bloqueio das contas de todos eles em redes sociais, tais
como Facebook, Twitter e Instagram. A medida, disse o magistrado, é necessária
“para a interrupção dos discursos com conteúdo de ódio, subversão da ordem e
incentivo à quebra da normalidade institucional e democrática”.
O despacho ordena, também, que oito deputados bolsonaristas,
que não foram alvo de mandados de busca e apreensão, prestem depoimento no
inquérito no prazo de 10 dias. São eles, Carla Zambelli (PSL-SP), Bia Kicis
(PSL-DF), Daniel Silveira (PSL-RJ), Filipe Barros (PSL-PR), Junio Amaral
(PSL-MG) e Luiz Phillipe de Orleans e Bragança (PSL-SP). Os deputados estaduais
são Douglas Garcia (PSL-SP) e Gil Diniz (PSL-SP).
As apurações identificaram quatro suspeitos de financiarem
grupos de disseminação de fake news e ataques a instituições nas redes sociais.
Eles terão, segundo determinação de Moraes, os sigilos fiscal e bancário
quebrados. São os empresários Edgard Corona e Luciano Hang, o humorista
Reynaldo Bianchi Junior e o militar Winston Lima. As informações demandadas
pelo STF se referem ao período entre julho de 2018 e abril de 2020. O intervalo
abrange as últimas eleições, e as investigações podem ter desdobramentos em
relação aos pleitos para presidente, deputado e senador.
Durante as buscas, a PF apreendeu computadores, tablets,
celulares e outros dispositivos eletrônicos, “bem como de quaisquer outros
materiais relacionados à disseminação das aludidas mensagens ofensivas e
ameaçadoras”, conforme determinação de Moraes. Ao autorizar as diligências, o
ministro argumentou que “garantias individuais não podem ser utilizadas como um
verdadeiro escudo protetivo da prática de atividades ilícitas”.
Ataques
Moraes afirmou, na decisão, que “as provas colhidas e os
laudos periciais apresentados nos autos apontam para a real possibilidade de
existência de uma associação criminosa, denominada nos depoimentos dos
parlamentares como ‘Gabinete do Ódio’, dedicada à disseminação de notícias
falsas, a ataques ofensivos a diversas pessoas, às autoridades e às
instituições, dentre elas o Supremo Tribunal Federal, com flagrante conteúdo de
ódio, subversão da ordem e incentivo à quebra da normalidade institucional e
democrática”.
O ministro citou depoimentos de parlamentares como Joice
Hasselmann (PSL-SP) e Alexandre Frota (PSDB-SP), que narram a existência do
Gabinete do Ódio. Segundo a parlamentar, a estrutura utilizada para atacar
adversários do governo é organizada de dentro do Palácio do Planalto. “Como se
vê de tudo até então apresentado, recaem sobre os indivíduos aqui identificados
sérias suspeitas de que integrariam esse complexo esquema de disseminação de
notícias falsas por intermédio de publicações em redes sociais, atingindo um
público diário de milhões de pessoas, expondo a perigo de lesão, com suas
notícias ofensivas e fraudulentas.
Ameaças
O inquérito aberto pelo Supremo apura a produção de
informações falsas e ameaças à Corte. De acordo com relatórios da PF enviados à
Corte, o modus operandi do grupo alvo da operação de ontem é a publicação de
ataques em massa e até mesmo o uso de robôs para espalhar notícias falsas e afundar
reputações, além de tentar provocar instabilidade política.
Surpresa no Planalto
A ação contra o grupo surpreendeu Jair Bolsonaro e aliados,
que, na véspera, haviam comemorado a operação de busca e apreensão da PF em
endereços ligados ao governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC),
adversário do presidente. Witzel é investigado por suspeita de envolvimento em
irregularidades em contratos para o combate à pandemia do novo coronavírus.
Alvos de mandados
Roberto Jefferson
Quem é
Presidente do PTB, foi o responsável pelas denúncias que
levaram à descoberta do mensalão, em 2005. Nos últimos meses, passou a defender
Bolsonaro após a aproximação do presidente com o Centrão. Há algumas semanas,
usou as redes sociais para aconselhar Bolsonaro a “demitir e substituir os 11
ministros do STF, herança maldita”.
Como se defendeu
“Tribunal do Reich. Com um mandado de busca e apreensão,
expedido contra mim por Alexandre de Moraes, STF, para aprender meus
computadores e minhas armas. Atitude soez, covarde, canalha e intimidatória,
determinada pelo mais desqualificado ministro da Corte.”
Sara Winter
Quem é
Uma das principais ativistas pró-Bolsonaro, é youtuber e
líder do movimento Os 300 do Brasil, formado por apoiadores do presidente e que
montou acampamento em frente ao Congresso no mês passado para protestar contra
o Legislativo e o Judiciário.
como se defendeu
“A Polícia Federal acaba de sair da minha casa. Bateram aqui
às 6h da manhã a mando do Alexandre de Moraes. Levaram meu celular e notebook.
Estou praticamente incomunicável! Moraes, seu covarde, você não vai me calar!!
(…). Alexandre de Moraes comprovou que está a serviço de uma ditadura do
Judiciário.”
Allan dos Santos
Quem é
Blogueiro e responsável pelo site Terça Livre. Amigo dos
filhos de Bolsonaro, é tido como um dos líderes do chamado Gabinete do Ódio. É
classificado como um dos principais influenciadores do esquema de notícias
falsas e ofensas contra o STF.
como se defendeu
“A instituição STF sofreu, hoje (ontem), seu maior ataque.
Sozinho, Alexandre de Moraes desmoralizou toda a Suprema Corte. Ou os ministros
do STF param Alexandre, ou apenas o Art. 142 pode pará-los. A República não
precisa dos militares, basta usar o bom senso”
Também foram implicados na operação
Edson Pires Salomão — chefe de gabinete do deputado estadual
Douglas Garcia (PSL-SP) e presidente nacional do Movimento Conservador
Rodrigo Barbosa Ribeiro — assessor do deputado estadual
Douglas Garcia (PSL-SP) e coordenador regional do Movimento Conservador em
Araraquara (SP)
Marcos Dominguez Bellizia — ativista do Movimento Nas Ruas,
grupo que se denomina de direita
Bernardo Kuster — youtuber do Paraná e diretor do site
jornalístico de Olavo de Carvalho, o Brasil
Sem Medo
Marcelo Stachin — engenheiro civil e líder de movimentos em
prol de Bolsonaro, como Frente Conservadora MT, Canhota Não, e Frente Cidadã
Enzo Leonardo Suzin — youtuber, com mais de 175 mil
inscritos no canal
Rafael Moreno — blogueiro
Paulo Gonçalves Bezerra — empresário
Eduardo Fabris Portella — ativista
Fonte: Correio Braziliense
Tags: #operação #polícia #bolsonaro #apoiadores
Nenhum comentário:
Postar um comentário