Facção é investigada por assassinatos ocorridos na Grande
Fortaleza - Rafaela Duarte/SMV
De uns tempos para cá, a Região Metropolitana de Fortaleza
(RMF) vem apresentando crescente aumento no número de assassinatos. O olhar,
antes voltado principalmente à Capital, passou a ser direcionado também aos
municípios vizinhos, em especial à cidade de Caucaia. Foi lá que a facção
carioca Comando Vermelho acabou criando um braço - o Comando da Laje.
O surgimento da nova facção ocorreu a partir de um outro
grupo criminoso formado por um dos homens mais procurados do Ceará: Alban
Darlan Batista Guerra, o 'Darlan'. O Governo do Estado, atualmente, oferece R$
10 mil a quem der informações que possam levar à sua captura.
> Subtenente da PM, pai de chefe do grupo foi condenado
por obter arma irregular
Desde que a facção foi criada, integrantes do novo grupo
criminoso são suspeitos de cometer, pelo menos, 18 homicídios, entre os anos de
2016 e 2020, conforme documentos de investigações aos quais o Sistema Verdes
Mares teve acesso. Apenas sob 'Darlan' pesa a responsabilidade de oito
assassinatos.
Influência
Contudo, o principal matador do Comando da Laje recebe a
alcunha de "Guabiru". Walisson César Marinho Borges, 23, confessou,
em depoimento à Polícia Civil, ter participado de oito homicídios; outros dois
foram confirmados por seu comparsa: Francisco Vitor Almeida de Azevedo, o
'Vitor Oião', de 18 anos. Além dos dois, o SVM ainda conseguiu identificar
outros oito integrantes do grupo criminoso comandado por Darlan.
A área de atuação, segundo as investigações da Polícia Civil
se dá, principalmente, no bairro Padre Júlio Maria, em Caucaia, mas se estende
aos vizinhos Capuan e Jandaiguaba.
De acordo com o escrivão da Delegacia Regional de Caucaia,
Josenildo Menezes, 'Darlan' "montou um grupo de adolescentes que foi
crescendo. Eles passaram a traficar drogas e se aliaram ao outro lado do
(bairro) Padre Júlio Maria. Aumentaram o grupo, receberam apoio de um e de
outro e aí surgiu o Comando da Laje".
O escrivão, contudo, nem chega a considerar o grupo como uma
facção. Por ser ainda pequeno, classifica-o como "alongamento do CV".
"Estamos diuturnamente naquela área. Do grupo que foi montado pelo
'Darlan', já tivemos diversos adolescentes apreendidos e muitas armas
apreendidas. Mais de seis jovens foram mortos em confronto com a Polícia",
relata.
A Justiça
Questionado sobre a existência da facção, o Grupo de Atuação
Especial de Combate às Organizações Criminosas (Gaeco), do Ministério Público
do Ceará (MPCE), afirmou, em nota, que "tem conhecimento da existência de
um novo grupo criminoso em Caucaia denominado Comando da Laje e que há mandado
de prisão em aberto contra Alban Darlan Batista Guerra". Porém, o MPCE
disse não divulgar mais detalhes "para não prejudicar as
investigações".
Para Josenildo Menezes, o número de homicídios na cidade tem
crescido, especialmente, por causa da disputa de tráfico de drogas. O escrivão
estima que 60% das mortes violentas no município ocorrem tendo como vítimas
pessoas ligadas a facções. "O crime de violência em Caucaia se restringe a
isso. Se nós conseguirmos enviar as lideranças para a prisão, tanto de um lado
quanto de outro, e a Justiça manter essas pessoas recolhidas, o índice de
criminalidade vai lá pra baixo", diz.
O município de Caucaia tem causado certa preocupação na
Secretaria da Segurança Pública do Estado por ter apresentado, nos últimos
meses, aumento crescente no número de assassinatos. De acordo com o órgão
estadual, só nos dois primeiros meses do ano, foram registrados 81 casos de
mortes violentas (33 em janeiro e 48 em fevereiro). A média é de mais de uma
por dia.
Efeitos
Uma pessoa que mora no bairro Padre Júlio Maria, cuja
identidade será preservada, conta que a atuação do Comando da Laje na região
"é muito forte". "Apesar de a gente não conhecer as pessoas que
estão à frente, eles todos conhecem a gente. Muitos chegam perto e falam nosso
nome, sem mesmo a gente conhecer a pessoa. É como se eles tivessem total
controle dos que moram na comunidade", diz.
A sensação para ela é dúbia: "por mais que seja
perigoso, a gente, às vezes, se sente um pouco protegido, por saber que eles
nos conhecem, que não vão fazer nada com as pessoas que moram dentro da
comunidade".
Embora a fala demonstre um certo sentido de proteção, a
reportagem esteve no bairro em janeiro deste ano, durante uma apuração sobre a
dominação de grupos criminosos em áreas indígenas. No local, as inscrições
pichadas nas paredes denunciavam a amplitude do grupo criminoso; elas iam de
"Morador aqui é intocável" a "X-9 aqui é bala".
"A gente tem medo, por isso fica calado. Se eu souber o
nome de alguém, não vou falar porque todo mundo tem noção que é perigoso"
acrescenta. Além disso, também há uma "barreira invisível", que
impede a circulação a outras comunidades dominadas pela rival Guardiões do
Estado. O morador, contudo, acredita que, ultimamente, a facção está mais
fraca. "Não sei dizer o motivo, mas talvez porque o chefe não esteja
aqui".
Baixas
Desde o começo deste ano, o novo grupo vem apresentando
diversas baixas, com a prisão de seus associados. O braço-direito de 'Darlan',
Heldervan Barbosa do Nascimento, vulgo 'Pança', 18, foi preso pela Polícia
Militar em 28 de janeiro. Ele é suspeito de ter assassinado os irmãos Arthur
Dalmo Barbosa Moreira e Raimundo Miguel Barbosa Moreira. Os dois seriam
integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC).
Além dele, as ações também chegaram a Francisco Jonas
Oliveira Silva, no dia 8 de fevereiro, que supostamente estaria com as
lideranças do grupo cearense em uma casa. Em janeiro, também foi preso Kildary
William Cavalcanti Rebouças, 23 - ele é filho do segundo homem mais procurado
do Estado e principal liderança do Comando Vermelho na região, Francisco Cilas
de Moura Araújo, o 'Mago'.
Fonte: Diário do Nordeste CE
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